Resumo
Esse trabalho tem como objetivo apresentar os resultados de uma pesquisa de amplitude nacional que objetivou compreender a preferência dos surdos em relação às janelas de Libras. A pesquisa avaliou, por meio de um questionário virtual bilíngue, se as produções das janelas em obras audiovisuais, no que diz respeito ao formato, tamanho e textura, são ou não adequadas às necessidades comunicacionais dos surdos. O questionário foi elaborado na plataforma Google forms e foi produzido em língua portuguesa e em Libras em três diferentes fases: (i) elaboração das perguntas com equipe de tradução e edição audiovisual; (ii) tradução para a Libras; e (iii) validação por avaliadores surdos. O instrumento foi abordado como um gênero secundário, conforme concepção bakhtiniana, que mobilizou a dimensão verbo-visual da linguagem a partir da tradução intermodal. O questionário foi composto por quatro partes: (i) apresentação e Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TLCE); (ii) dados pessoais; (iii) perfil sociolinguístico; e (iv) questões sobre as janelas. A versão final teve circulação em redes sociais, e-mails e grupos virtuais com ampla participação de surdos. No item (iv) do questionário, os respondentes avaliaram cinco tipos de janelas para três gêneros diferentes: cinematográfico-comédia, jornalístico televisivo e videoaula. Os gêneros selecionados mobilizam práticas de tradução, caso do primeiro e do último, e de interpretação, caso do segundo, considerando que telejornais são geralmente transmitidos ao vivo. As janelas foram elaboradas a partir de dois critérios: (i) proposições oficiais como da NBR 15290/05 da ABNT e do Guia de Produções Audiovisuais Acessíveis (Naves, et all., 2016) do Ministério da Cultura (doravante Guia); e (ii) proposição mercadológica com circulação em plataformas virtuais. O questionário foi respondido por 168 surdos jovens e adultos que estudaram, majoritariamente, em escola regular inclusiva sem o acompanhamento de intérpretes, com nível superior, falantes de Libras, com o domínio da língua portuguesa escrita, que preferem assistir mais produções na TV aberta com o recurso da legenda em língua portuguesa. Os dados mostram que a preferência por janelas de Libras altera-se de acordo com o gênero. Isso pode ser evidenciado quando a janela proposta exclusivamente para o cinema, apresentada pelo Guia, foi avaliada para a TV e recebeu melhor avaliação do que no gênero cinematográfico. Do mesmo modo, a proposta mercadológica para o cinema ganhou em quantidade de votos positivos em relação à proposta do Ministério da Cultura via Guia. As variações da ABNT que costumam ser adotadas em diferentes produções audiovisuais como a janela com fundo branco, translúcida e transparente (sem o enquadramento atrás do tradutor/intérprete) não receberam avaliação tão positiva nos três gêneros propostos. Entretanto, a primeira foi a que recebeu a pior avaliação em todos os gêneros. Percebe-se que a janela, pelos dados analisados, vai além de um recurso de acessibilidade para a população surda. Ela constitui-se em um elemento central para o consumo da cultural audiovisual brasileira, visto que, conforme demonstram as respostas, a legenda, embora ainda seja a preferida pelos surdos para assistir vídeos, não alcança a totalidade da comunidade surda.