Resumo
Este trabalho tem por objetivo compartilhar algumas experiências de pesquisa desenvolvidas no campo da surdez, na área da interpretação educacional. Faremos um recorte do estudo teórico realizado no percurso da pesquisa de doutoramento da primeira autora, sendo desenvolvida na Universidade Estadual de Campinas/UNICAMP (2009). Todavia, além do momento presente, de tal pesquisa, este texto pretende compartilhar as inquietações e os resultados obtidos com a pesquisa de mestrado realizada na mesma instituição, e com a mesma temática: a relação pedagógica no ato da interpretação em contexto de ensino. Portanto, o mote da pesquisa de mestrado, e a atual, de doutorado, se deu sobre a questão da inclusão do intérprete de língua de sinais educacional (ILSE) no ensino. Fixamos o olhar nas relações gerais (ILSE, aluno surdo, professores e alunos ouvintes) que acontecem no cotidiano escolar, em situações de inclusão educacional. O foco se dá no processo, que envolve o ILSE, como participante ativo do ensino de alunos surdos – este é um dos pontos que tenho adensado na pesquisa. Abordaremos na discussão teórica: 1) o que, e como se toma a
relação de ensino, e, a partir disso, 2) como o ensino se dá com o intérprete educacional sendo (inter)locutor do e no processo de aprendizagem. Focamos as observações nas estratégias de recriações e resistências dos sujeitos, surdos e intérpretes, ao fazer do espaço da sala de aula, de fato, um lugar de aprendizagem, mantendo a diferença surda, sem homogeneizá-la. E ainda, o paradoxo que a própria inclusão impõe: inclusão-exclusão, tradução-ensino, presença-ausência. Assumimos, no trabalho, outra perspectiva, a da diferença sempre presente e persistente no espaço da sala de aula, seja ela (sala de aula) nomeada como inclusiva ou não. Realizei um estudo das relações desaber e poder no campo da surdez, utilizando como pressupostos teóricos os conceitos de Foucault (1979). Isto para pensar o momento e os discursos sobre a emergência do intérprete de língua de sinais, sua formação, e sua entrada na educação. Discorreremos sobre as estratégias de sobrevivência deste novo personagem que entra na educação com algumas “propostas” impostas sobre sua atuação, e que traz novas realidades para a sala de aula inclusiva. É deste cenário que se tratou a pesquisa: pensar as relações dos sujeitos (intérpretes educacionais e surdos), as diferenças, as resistências e as recriações destes sujeitos no cotidiano escolar. Portanto, a diferença “surda” é o que nos move.