Resumo
Este estudo é um recorte de uma pesquisa de mestrado desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Estudos da Tradução da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) que objetivou identificar as realidades imbricadas na atuação de tradutores de Libras na tradução dos cursos MOOCs do português para a Libras
durante o período da pandemia da COVID 19. O período pandêmico proporcionou uma oportunidade para que os tradutores e intérpretes da instituição pudessem atender a uma antiga demanda: tornar os Cursos MOOCs, oferecidos por meio da plataforma Moodle do IFRS, acessíveis. Durante essa transição para o trabalho em
home office, devido a pandemia, os tradutores e intérpretes de Libras/Língua Portuguesa (TILSP) enfrentaram desafios significativos para além do processo de tradução desses materiais didáticos, dada a adoção do novo formato de trabalho. Este estudo se fundamenta na perspectiva dialógica da linguagem de Bakhtin e o
Círculo, bem como nos Estudos da Tradução e Interpretação de Língua de Sinais (ETILS). Como caminho metodológico para a construção do corpus, foi escolhida a autoconfrontação, dispositivo proposto por Vieira e Faïta (2003), que estabelece uma relação dialógica entre o trabalhador e a sua própria atividade, e o caminho analítico adotado foi o da verticalização e da horizontalização, proposto por Campos (2021). A pesquisa foi analisada e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos - CEPSH da UFSC, com parecer consubstanciado favorável (Parecer no 5.835.118). A análise permitiu identificar, como uma das categorias, o trabalho em equipe durante o processo na tradução home office dos cursos MOOCs. O conceito de polifonia de Bakhtin foi usado para explicar e embasar as reações das tradutoras em relação aos revisores Surdos e demais colegas, e destaca a contribuição por meio da interação entre essas vozes para a qualidade das traduções e o
enriquecimento do processo em materiais audiovisuais. A polifonia reconhece a complexidade do discurso, permitindo a coexistência e a interação de diversas perspectivas, enriquecendo, assim, a compreensão das opiniões em jogo dos sujeitos envolvidos no processo. A divergência entre os discursos destaca a importância de considerar as diferentes valorações e perspectivas ao analisar o trabalho em equipe. A reflexão sobre essa divergência nos permite compreender como as vozes individuais se entrelaçam e contribuem para uma visão mais abrangente do processo nesse tipo de trabalho, evidenciando a riqueza da polifonia na análise das experiências. Nesse contexto, o diálogo emergiu como uma ferramenta crucial para enfrentar as incertezas. Nos espaços de trocas, a voz dos integrantes da equipe foi ouvida em um ambiente colaborativo. Esse processo vai ao encontro das ideias bakhtinianas de diálogo como um local de interação e co-construção do conhecimento.