O Teatro com interpretação para Libras e as diferentes perspectivas discursivas
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Palavras-chave

teatro
Tradutor e intérprete de Libras
Espectadores surdos
análise dialógica do discurso

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Resumo

Esta pesquisa apresenta um recorte da tese de doutorado (Fomin, 2023) no qual ampliamos nosso prisma de investigação do mestrado (Fomin 2018a) para além da investigação da atuação de intérpretes de Libras no teatro. Observamos e analisamos
também a perspectiva dos interlocutores espectadores surdos e de produtores e programadores de teatro que atuam em instituições culturais e promovem acessibilidade em suas apresentações teatrais. O objetivo geral é analisar interações
discursivas entre interlocutores de espetáculos teatrais com interpretação para Libras a partir dos enunciados de espectadores surdos, tradutores e intérpretes de Libras e programadores de teatro. Metodologicamente, empreendemos uma pesquisa qualitativa, cujo corpus foi constituído de entrevistas em grupo com (a) tradutores e intérpretes de língua de sinais (TILS); (b) espectadores surdos; (c) programadores de teatro de uma instituição cultural. A pesquisa foi autorizada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da PUCSP, parecer de aprovação 5.156.124. Partimos da concepção de que na interpretação de um espetáculo teatral para língua de sinais, deve-se considerar que a cena é um enunciado verbo-visual (Brait, 2005, 2009; Gonçalves,2013) constituído de diversos textos em relação e, por isso, o que acontece visualmente na cena compõe a narrativa do espetáculo, formando um enunciado como um todo. Assim, o “todo da cena” é constituído também pela presença do
intérprete de língua de sinais, e mesmo que diretores e produtores de teatro tentem esconder a presença da língua de sinais, ela constituirá, de uma forma ou de outra, o todo do espetáculo. Devido à modalidade da língua de sinais (gesto-visual), sua
produção no ato interpretativo deve ser visualizada junta e concomitantemente à cena teatral (Fomin, 2018b). Assim a forma como a acessibilidade é oferecida e o posicionamento em cena dos intérpretes reverbera em como ele será compreendido
pelos espectadores surdos (Fomin, 2023). Com os resultados obtidos das entrevistas, apresentamos uma análise dialógica do discurso e discutimos sobre questões de representatividade, participação, formação de público e os diferentes papeis do
intérprete de Libras nessa interação discursiva que envolve artistas, produtores e público surdo. O tema comum às entrevistas e que escolhemos discutir e refletir foi o das relações do teatro com a (não) presença língua de sinais – as línguas como arena de luta de grupos sociais, no qual apareceu fortemente o embate entre línguas e a hegemonia linguística. As questões motivadoras deste estudo estão relacionadas à participação e ao pertencimento de espectadores surdos aos espetáculos teatrais e envolvem indagações de como o acesso do público surdo ao teatro vem acontecendo, de como se dá a experiência artística pelo público surdo, e de quais as tensões e embates existentes na interação discursiva de interlocutores surdos, tradutores e intérpretes e produtores de teatro. E para refletirmos sobre o pertencimento ou não de espectadores surdos em apresentações teatrais, entendemos ser fundamental observar o lugar que a língua de sinais ocupa no espetáculo. A hipótese confirmada com a pesquisa empreendida é a de que apesar do discurso institucional de acessibilidade apontar para a inclusão de pessoas surdas em espaços culturais, há ainda muitas tensões e embates discursivos entre os interlocutores tradutores e intérpretes de Libras, surdos e produtores de teatro. No que tange à atuação dos TILS e à participação dos espectadores surdos, essas tensões afetam diretamente a experiência com o objeto estético.

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