Resumo
É consenso que os alunos surdos, como os demais grupos marcados por diferenças, enfrentam muitos obstáculos durante seu processo de escolarização. No caso da pessoa surda, seu principal entrave acaba concentrando-se na questão do uso de uma língua diferente: a língua de sinais, numa sociedade majoritariamente ouvinte. Neste contexto, emerge o papel do intérprete/tradutor de língua de sinais, como um dos principais agentes na superação dos limites impostos pela hegemonia ouvintista e pela acessibilidade de que a pessoa surda necessita para construir conhecimento na instituição escolar. E, embora vejamos que a legislação, bem como a política educacional brasileira, tenham avançado neste campo, preocupa-nos ainda de perto o papel que vem assumindo o intérprete/tradutor de libras no contexto do ensino superior. Infelizmente, este profissional vem atuando de toda forma e com pouco incentivo à profissionalização. Diante disto, nossa pesquisa objetiva traçar um perfil dos intérpretes que atuam no nível superior da UFPB – Universidade Federal da Paraíba, identificando titulação, proficiência, experiência e analisando a correlação com a área de atuação como elemento importante para um trabalho de qualidade. Para tanto, realizou-se pesquisa documental e de campo, utilizando-se dados advindos de outros projetos de pesquisa, onde se insere o atual estudo. Os sujeitos da pesquisa foram os intérpretes que atuam na UFPB (Universidade Federal da Paraíba) na condição de apoiadores ou intérpretes e os estudantes surdos. Os resultados encontrados demonstram que a correlação entre formação e atuação implica na qualidade da atividade desenvolvida. E, ainda que existe dificuldade em conseguir atender aos critérios de formação, proficiência, experiência e atuação dos intérpretes/tradutores, tendo em vista que é escassa a presença destes profissionais nas ciências exatas, sendo mais comum nas ciências humanas. Este fato permite que intérpretes das ciências humanas atuem nas ciências exatas e não promovam a plena acessibilidade dos estudantes surdos aos conhecimentos universitários. Concluímos, portanto, que é preciso que a universidade invista na formação continuada dos intérpretes quando não consegue estabelecer relação direta entre sua formação e sua área de atuação, a fim de que não seja penalizado, quem deveria ser incluído.