Resumo
A visão é o canal perceptual do surdo, assim a língua de sinais se apresenta na modalidade que satisfaz essa condição. Por isso o seu uso nos veículos de comunicação, se constitui como um meio eficaz de acessibilidade. Em 2002, a Libras foi oficializada como a língua das comunidades surdas brasileiras e foi regulamentada pelo decreto no 5.626/05 que dispõe sobre seu uso, difusão, formação de professores e intérpretes da Libras. Anterior a esse decreto, a lei no 10.098/00 dispôs sobre a quebra de barreiras comunicativas e determinou a oferta da “linguagem de sinais” e/ou subtitulação nos programas de imagens. Porém, os meios de comunicação audiovisuais, em sua totalidade, não são acessíveis aos surdos. O decreto no 5.296/04 regulamenta a lei supracitada e determina prazos para que as emissoras de TV sigam o que manda à legislação. Atualmente, apenas alguns programas de canais abertos são legendados, e o cinema nacional não legenda todas as suas produções, limitando assim, o acesso da pessoa surda. Vivendo em uma sociedade constituída por uma maioria ouvinte, os surdos precisam aprender o português para estabelecer relações em ambientes familiares, de trabalho, entre outros. É importante explicitar que não são todos os surdos que conseguem se apropriar da língua portuguesa na modalidade escrita ou oral. A realidade educacional da maioria deles não contribui para essa aquisição. Mesmo os que são usuários dessa língua têm dificuldades de identificar os gêneros textuais e outros aspectos relacionados ao Português. Por isso, o presente trabalho investigou a forma mais confortável de ofertar acessibilidade ao surdo, por meio da análise dos instrumentos de acessibilidade, janela de Libras e legenda para surdos, usados no filme “O grão” de Petrus Cariry. A pesquisa englobou cinco sujeitos surdos bilíngues, um intérprete de Libras, além de um legendista. Trata-se de um estudo de caso da abordagem qualitativa, no qual, durante o percurso metodológico foi exibido aos surdos um trecho do filme duas vezes seguidas, com a janela de libras e legenda, consecutivamente. Em seguida, foi aplicado um questionário abordando questões de ordem pessoal e de compreensão textual. As análises basearam-se nos estudos bibliográficos acerca das estratégias de tradução/interpretação inter e intralingual Português/Português e Português/Libras, principalmente nas ideias de Brito (1995), Quadros (2005), Neves (2007), Sousa (2008), entre outros autores. A partir dos dados coletados, foi constatado que os surdos têm uma compreensão parcial da legenda e que a janela é a forma mais confortável de acessibilidade, mas esta não favorece a identificação das falas dos personagens quando há mais de dois em cena. Este estudo, aponta, portanto, para a necessidade de repensar as estratégias de tradução usadas nesse recurso, e se propõe a contribuir na busca de um canal eficiente de acessibilidade para surdos nos meios de comunicação audiovisual, residindo aí sua função social.