TRANSCRIÇÃO DE LIBRAS NA PERSPECTIVA DA LINGUÍSTICA DA ENUNCIAÇÃO
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Palavras-chave

Transição
Libras
Linguistica

Resumo

O presente trabalho propõe apresentar uma abordagem teórico-metodológica de base enunciativa acerca das especificidades da transcrição lingüística da interpretação para Libras. Sendo assim, valemo-nos do campo de estudos da Teoria da Enunciação de Émile Benveniste (1988, 1989) para refletirmos sobre as especificidades de uma transcrição desta natureza. A transcrição de uma interpretação para Libras não é comparável epistemologicamente a transcrever dados de outra natureza, visto que, na passagem do oral para Libras, há uma mudança radical na modalidade comunicativa (o que já é, por si só, um impasse em qualquer transposição intermodal). Soma-se a isso uma nova mudança provocada pela passagem de Libras para o escrito (outra transposição intermodal). Nossa pergunta é: há diferença entre transcrever do oral para o escrito e transcrever de Libras para o escrito? Caso afirmativo, de que ordem seria essa diferença? Segundo Flores (2006) “a transcrição, vista como um ato enunciativo, como um mostrar de um dizer que comporta, ela mesma, um outro dizer, pode ser estendida a estudos de diferentes corpora”. Assim, a transcrição nos permite, através de uma mesma materialidade – escrita –, depreender as diferentes vias interpretativas que os dizeres, na língua fonte e na língua meta, possam indicar. Olhar para o intérprete como sujeito, ou seja, enquanto alguém atravessado pela linguagem, e não apenas como um ser “locutor” no mundo é reconhecer-lhe sua posição de enunciador. Em uma interpretação temos, portanto, uma dupla enunciação: o que interpreta enuncia, bem como o que narra na língua fonte. Sendo assim, nesse trabalho visamos apresentar como uma transcrição de base enunciativa pode servir como recurso para se analisar os diferentes desdobramentos de sentido produzidos em cada ato enunciativo envolvido na transcrição de uma interpretação para Libras. Dessa forma, podemos apontar inicialmente que as especificidades na transcrição lingüística de uma interpretação para Libras decorrem, de um lado, da instância enunciativa em que o dado/texto é produzido e, de outro lado, do fato de a própria transcrição ser também o produto de um ato de enunciação. Assim temos que a transcrição da interpretação comportaria uma tripla enunciação porquanto estão em jogo três enunciadores: o que narra, o que interpreta e o que transcreve. Por isso, deve-se levar em consideração também o fato de que a transcrição implica o transcritor, que enuncia de forma muito particular essa passagem do oral para Libras e da Libras para o escrito.

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