Resumo
Este trabalho é parte do projeto de pesquisa intitulado Autoformação: educadores com o pé na estrada da Universidade Federal de Santa Maria – UFSM e tem a intenção de provocar um conhecer com vontade numa perspectiva apresentada por Max Stirner (2001) e abre campos de conhecimentos tanto para educadores e intérpretes em formação como para surdos. Os temas de pesquisa são eleitos segundo o interesse dos alunos-pesquisadores e, partindo-se da pesquisa em educação desenvolvida pelo NAT/CED/UFSC, que criou uma modalidade educacional voltada para a formação de educadores autônomos, o trabalho tem como característica mais importante a possibilidade de o oficineiro, intérprete ou educador apresentar seus temas de estudo a pessoas que também tenham interesse por esses temas. Chamam-se oficinas às relações que se dão a propósito das trocas de saberes e das estratégias utilizadas para a compreensão do que cada um tem a dizer. A leitura de mundo, segundo Paulo Freire, permite que pesquisadores e surdos tenham experiências de produção de conhecimento cujo foco é a vontade de conhecer. Foram criadas e experimentadas estratégias de acesso aos conceitos científicos envolvidos no tema cheiros, tema eleito segundo o interesse dos alunos-pesquisadores, evidenciando questões pouco discutidas no contexto escolar, tais como: Como as moléculas dos aromas chegam até o nariz? Como estas moléculas chegam até o cérebro? Por que existem cheiros diferentes? Como são produzidos aromas? E a problematização de questões como essas exigem a criação de experimentações que ofereçam suporte para os conceitos. Surgem dessa investigação as caixas de ferramentas, que são estratégias metodológicas produzidas e utilizadas para tratar dos diversos assuntos que compõem um tema. Aliado à falta de formação dos profissionais intérpretes em áreas específicas do conhecimento, estes canais de acesso aos conceitos, que são auxiliares na compreensão/aproximação do tema e na construção de dispositivos de comunicação ouvinte-surdo e também ⎯ devido ao ineditismo dos temas no campo de conhecimentos disponível aos surdos ⎯ entre surdo-surdo, intitulado caixas de ferramentas, fazem parte de uma metodologia fundamental para o acesso a diversos temas, preenchendo a carência de conhecimento em áreas tão específicas. Com esta metodologia é possível ainda que se busque por alternativas de linguagem devido à infinidade de conceitos próprios das ciências e a limitação na inexistência de uma infinidade de léxicos na língua de sinais relacionados às ciências naturais e à experiência imediata dos sentidos. Assim, tanto educadores, quanto intérpretes em formação têm a possibilidade de utilizarem-se desta metodologia de acesso aos conceitos a fim de que possam construir e criar estratégias discursivas em torno do tema estudado. Esta metodologia, inédita no campo da interpretação em língua de sinais, associada a um conhecer com vontade, une os envolvidos abrindo espaço para a troca de saberes ⎯ pelo exercício de diversas linguagens ⎯ e para a inauguração de novas formas de compreender o mundo.