Resumo
O presente trabalho tem como objeto de interesse investigar como ocorre a atuação do intérprete de Libras com a especificidade na Câmara de vereadores em Catalão – GO. A cidade localizada no sudeste goiano e com aproximadamente 99 mil habitantes, tivera nas últimas eleições um Surdo assumindo o cargo de vereador, e nesse momento, surge a necessidade de contratação de um profissional para acompanhar as atividades no ambiente político e social, acontecimento inédito nesse ambiente. Como método foi usada uma abordagem qualitativa tendo como instrumento a entrevista oral que procurou ter uma maior interação com o entrevistado e um questionário com questões articuladas, levantando informações por escrito cujas respostas foram predefinidas. Em contato com a única profissional do local, buscamos conhecer a formação e a experiência no trabalho, as estratégias de interpretação, os desafios enfrentados na interação com o surdo e o público, como também as principais dificuldades enfrentadas antes, durante e depois da atuação. A análise fundamentada é baseada em BRASIL (2002, 2005 e 2010), o documento oficial que regulamenta a Libras enquanto língua, o Decreto que regulamenta a Lei 10.436 e pontua a formação do Tradutor e Intérprete de Libras e por último o reconhecimento deste profissional. Também nos embasamos em QUADROS (2003 e 2004), LACERDA (2002 e 2013) e ROSA (2003 e 2005), que fundamentam a estrutura gramatical da Libras, discutem a atuação do intérprete de Libras e da Língua Portuguesa e situam o intérprete como mediador nas relações entre as pessoas surdas e ouvintes em diferentes contextos. Com a análise dos dados, buscamos comparar as posições, aplicar argumentação específica do objeto trabalhado e apresentar reflexões cujos resultados apontaram que para a profissional entrevistada, apesar de acompanhar o parlamentar Surdo em diversas situações como eventos, reuniões, visitas e outros, são as sessões do legislativo que ocorrem uma vez por semana que se caracterizam como o maior desafio de atuar no ambiente político, uma vez que, a falta de sinais próprios daquele contexto muitas vezes dificulta o processo de interpretação, pois é necessário recorrer com frequência à datilologia. Apesar de atualmente alguns sinais já terem sido criados pelo Surdo, o recurso da datilologia ainda é recorrente. A rapidez e as falas simultâneas também foram apresentadas como um grande desafio, já que, por muitas vezes a profissional não sabia qual fala traduzir. Entretanto, segundo a intérprete em questão, esse trabalho, apesar de difícil, é muito gratificante, pois reconhece sua importância no processo de acessibilidade destinada à pessoa surda. E se sente mais feliz ainda em saber que hoje pessoas surdas se projetam socialmente e ocupam lugares até então ocupados apenas por ouvintes.