RELATO DE EXPERIÊNCIA
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Palavras-chave

Educação bilíngue de surdos
Material didático bilíngue
Aquisição da Libras como L1
Aquisição do português como L2
Registro da Libras

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Resumo

A educação bilíngue de surdos prevê que o ensino deve ser em sua língua materna, em Libras, a Língua Brasileira de Sinais, tendo como segunda língua o português na modalidade escrita, de acordo com a Lei 14.191/2021. Sendo assim, é importante pensar em propostas educativas que atendam os surdos, considerando suas especificidades e diversidade. Ao adentrar em uma classe de surdos multisseriada do Ensino Fundamental para ensinar Ciências como prática de estágio da graduação em Licenciatura em Ciências Exatas - ênfase Química, nosso objetivo foi compreender os desafios e potencialidades do uso da Pesquisa em Sala de Aula aplicada ao ensino de surdos. No método adotado, foram realizados 6 encontros presenciais na escola, cada um com duração de 50 minutos com o propósito de aplicar uma oficina temática voltada para a conteúdo de Ciências. A oficina temática está embasada na Pesquisa em Sala de Aula que possui as seguintes etapas: questionamento, construção de argumentos e comunicação. Essa proposta foi pensada justamente por ter como foco a autonomia dos estudantes, sendo estes protagonistas de seu aprendizado. No primeiro e segundo encontro, a oficina temática envolveu questionamentos iniciais sobre pesquisa e ciência e iniciação do conteúdo proposto; no terceiro e quarto encontro realizamos visita pedagógica alinhada ao tema abordado em sala de aula e retomamos o conteúdo construindo uma maquete. No quinto encontro aplicamos outro questionário como atividade de revisão do conteúdo. No sexto e último encontro, realizamos uma entrevista com os alunos surdos. Por fim, analisamos as respostas dos alunos na entrevista, e refletimos sobre como a Pesquisa em Sala de Aula pode contribuir para que os surdos construam conhecimento, quais são os desafios e possibilidades na educação de surdos desde a perspectiva de um professor surdo. Desta experiência docente resulta este relato de que, ao lidar com alunos surdos, a preocupação do professor surdo já começa desde a pesquisa para a elaboração da aula devido à escassez de materiais pensados para o ensino de surdos e até mesmo a dificuldade de encontrar sinais específicos para os termos utilizados em aula, isto faz com que o professor surdo sempre tenha que traduzir e adaptar os materiais. Traduzir o que encontra em português escrito para Libras oral na hora da explanação, além de ter que pesquisar imagens e vídeos que possam auxiliar no entendimento dos discentes, o que já demanda uma quantidade maior de tempo de preparação. A Pesquisa em Sala de Aula pressupõe num primeiro momento que os alunos, instigados pelo professor, façam questionamento, como um movimento inicial para construção do conhecimento, porém houve uma certa timidez/dificuldade dos alunos surdos envolvidos em realizarem questionamentos. Mesmo assim, com o desenvolver da oficina temática, a Pesquisa em Sala de Aula nos mostrou que a evolução dos alunos é possível e pudemos visualizar a concretização do aprendizado dos estudantes na construção da maquete, após serem estimulados com conteúdo didático visual e visita pedagógica. No cotidiano de um professor é inviável trabalhar exclusivamente com recursos visuais, por isso optamos em sempre entregar o material base escrito e impresso para estimular a leitura, mas sempre explanando o conteúdo em sinais. Outra dificuldade encontrada foi que alunos surdos possuíam uma baixa fluência em Libras e em português, o que desafiou o professor surdo a sempre utilizar linguagem simples dentro da Libras, desenvolver materiais e atividades para favorecer compreensão, sempre unindo a isso o estímulo da escrita em português para ampliar o vocabulário dos estudantes. Estas dificuldades resultam em necessidade de mais tempo para planejamento das aulas, estratégias de ensino, criar e adaptar recursos didáticos visuais para entrar em sala de aula. Em suma, alguns desafios devem ter atenção, tais como: i) a carência de materiais didáticos pensados para surdos; ii) ausência de sinais para termos específicos e iii) baixo nível de fluência dos alunos surdos em Libras e em português. Concluímos que a educação de surdos é tão desafiadora tanto repleta de possibilidades de pesquisa e criação. Destacamos aqui alguns campos de investigação e desenvolvimento de produtos educacionais promissores e urgentes para contribuir com o ensino de surdos, focando especificamente nos desafios vivenciados na aplicação desta pesquisa, mas que não se limitam tão somente ao que mencionamos.  Uma vez dentro da sala de aula, o professor surdo precisa traduzir o material do português escrito para Libras simples, privilegiar a expressão do raciocínio do aluno surdo em sinais e depois traduzir novamente para português escrito para que os alunos tenham material para levar para casa, ler, fazer revisão. Qual a formação do professor para isso? Quanto tempo despende para tal? Como registrar atividades e avaliações expressas de forma sinalizada? Essas são algumas das questões que devemos nos atentar. É necessário pensar em metodologias, tais como a Pesquisa em Sala de Aula, que motivem os estudantes para que estes sejam protagonistas na construção de conhecimentos e não meros expectadores, copiadores de palavras. Incentivar a autonomia e responsabilidade para que se sintam seguros, pois o período pandêmico de ensino remoto foi de perdas na aprendizagem e aumento das dificuldades de comunicação. Então é preciso readaptação das práticas para estimular o interesse dos estudantes. Contudo, esta é uma responsabilidade que não está só nas mãos do professor. Cabe ao poder público estimular a pesquisa, criação de materiais didáticos bilíngues voltados para a educação de surdos, glossários, além da contínua formação de professores para lidar com alunos surdos e suas especificidades.

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