Resumo
Como a universidade pode colaborar com a educação bilíngue de surdos? Partindo desse questionamento, o objetivo deste artigo é relatar e refletir sobre as experiências docentes na atividade de extensão intitulada “Educação Bilíngue de Surdos: articulação entre escola e universidade”. Para o desenvolvimento do trabalho, o conceito central é o de educação bilíngue de surdos, a partir do que dispõe a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) e, metodologicamente, optou-se pela produção dos dados a partir do relato de experiência (MUSSI; FLORES; ALMEIDA, 2021). A referida atividade está em desenvolvimento desde o ano de 2023, quando se promoveu a primeira ação do projeto em uma escola bilíngue de surdos de Porto Alegre/RS, quando a escola entrou em contato com a área de Libras solicitando a realização de uma parceria para oferecer atividades para os alunos surdos e os professores. Com a parceria, proporcionou-se aos alunos surdos, de variadas idades, o contato com diferentes professores bilíngues no ambiente cotidiano com conforto e conhecimento linguístico, além disso, buscou-se apresentar o significado de uma universidade e as possibilidades formativas oferecidas pela instituição, pois, considerando realidade do público da escola, o espaço acadêmico ainda se constitui como algo distante. Deste modo, no período de agosto - dezembro de 2023, ocorreram encontros quinzenais no seguinte formato: alunos-professores da UFRGS; e professores da escola-professores da UFRGS. Para o presente trabalho optou-se pelo relato e análise das atividades entre alunos e professores da Universidade. No desenvolvimento das atividades com os alunos, em formato de oficinas, as narrativas e experiências surdas sobre culturas, língua de sinais, identidades, cidadania e diversas temáticas trazidas pelos próprios alunos, constituíram o eixo de trabalho com a presença de mais de 30 alunos por encontro. Articulado ao eixo que inscreve-se o presente trabalho, destaca-se o desenvolvimento da oficina de Libras e de preparação para o vestibular da UFRGS. Na oficina de Libras trabalhou-se com diálogos cotidianos e expressão facial e corporal, na preparação para o vestibular realizou-se a análise do edital. A partir das atividades realizadas nas duas oficinas, retomando a pergunta de pesquisa, é possível concluir: a) na articulação de conhecimentos e práticas, a presença do modelo surdo, ou seja, do professor surdo, conforme apontado por Reis (2007) e Vieira-Machado (2016), reforça a produção da identidade, apropriação e fluência da primeira língua dos alunos; b) no contato com professores bilíngues, acessando informações sobre a universidade e outras temáticas, os alunos passam a ver as possibilidades da vida para além da escola. A cada encontro, a cada oficina, fomos interpeladas a levar temas fora do cotidiano escolar, atendendo os questionamentos trazidos, incluindo questões sociais e emocionais. Deste modo, a universidade, com a presença de professores bilíngues a partir das políticas públicas que deram visibilidade à língua de sinais, assume um papel importante na formação dos alunos, professores e defesa das escolas bilíngues de surdos, compartilhando saberes e valorizando as práticas das próprias escolas.