A ANÁLISE DE FONESTEMAS NA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS: UM ESTUDO INICIAL
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Palavras-chave

Família lexical
Fonestemas
Libras

Resumo

A iconicidade dos signos linguísticos já é algo conhecido tanto para as línguas em modalidade espaço-visual quanto para as línguas em modalidade oral-auditiva. A mais conhecida forma de iconicidade nas línguas orais é a onomatopeia, que são signos com iconicidade primária, visto que apresentam semelhanças em termos de percepção auditiva com os respectivos referentes (CRUSE, 1986, p. 34). Há ainda elementos da língua, menores que morfemas, conhecidos como simbolismo sonoro, que apresentam iconicidade secundária porque não remetem a nenhum referente em particular. Exemplos são a vogal |i|, presente em muitos substantivos e adjetivos que evocam a ideia de “pequenez” (ULLMANN, 1962). Nas línguas orais, essa iconicidade secundária é representada pelos fonestemas (ABELIN, 1999), ou seja, a associação sinestésica entre um som ou cadeia de sons linguísticos a um determinado conteúdo conotativo, repetindo-se em várias palavras que compartilham dessa noção. A semelhança entre simbolismo oral e simbolismo em línguas de sinais é reconhecida por Moreno (1999). Nas línguas de sinais, componentes como configuração da mão ou localização podem expressar um conteúdo comum a determinado grupo de sinais, que chamamos famílias lexicais. Esses autores destacam o papel do simbolismo sonoro no surgimento de novos signos. Nosso objetivo é identificar grupos de fonestemas em algumas famílias de signos na Língua Brasileira de Sinais (Libras), descrevendo sinais que se relacionam formal e semanticamente, por meio de determinados parâmetros fonológicos como configuração de mãos, ponto de articulação, movimento, orientação da palma das mãos e expressões não-manuais. Em caráter inicial de pesquisa, identificamos alguns sinais e os categorizamos a partir de padrões observados na sua constituição fonológica e semântica. i) FAMÍLIA, COMUNIDADE/CONGRESSO, DEPARTAMENTO, REUNIÃO, ii) ARTIGO-LEI, CURRÍCULO, CONTEÚDO, CAPÍTULO, DECRETO, EDITAL, ESTATUTO, LEI, PROGRAMAÇÃO, PROJETO, PROPOSTA, RELATÓRIO, REGULAMENTO, TEXTO iii), FLEXÃO, SÍLABA, HOMONÍMIA, POLISSEMIA, LÉXICO, MORFOLOGIA, PREFIXO, SUFIXO, iv) VIDEO-AULA, AMBIENTE VIRTUAL APRENDIZAGEM, CHAT, E-MAIL, HIPERTEXTO, LEGENDA, PARTICIPAÇÃO ONLINE, SLIDE-POSTAR, VIDEO-CONFERENCIA, v) PÓSGRADUACÃO, MESTRADO, DOUTORADO. Na família i, a base é um movimento que indica ‘grupo’. Na família ii, a base é uma configuração de mão que indica ‘registro’. Na família iii, a base é uma configuração que representa uma ‘unidade linguística’. Na família iv, detectamos uma base comum nesses sinais, refletindo a ideia de ‘monitor’ com uma configuração de mão semelhante a ‘L’. E, finalmente, na família v, a base de formação por meio da mão passiva fechada, trazendo uma ideia de ‘formação’. Para esse trabalho, empregamos sinais encontrados no glossário Letras Libras da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em sinalizações de pessoas surdas, se caracterizando como uma metodologia de observação direta. As evidências já encontradas nesta fase inicial do estudo apontam caminhos que relacionam a estrutura fonológica da Libras à sua dimensão semântica, ampliando nortes para o entendimento dos processos de criação terminológica ou neologismos da língua e também para o ensino da Libras.

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