Resumo
O primeiro curso de formação em Letras Libras no Brasil foi implementado no ano de 2006 pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, na modalidade de ensino à distância. Inicialmente, 9 estados fizeram parte deste processo, divididos nas regiões Brasileiras. Esta primeira turma do curso foi de licenciatura e objetivava propiciar a formação de professores de libras nos respectivos estados. Para traçar o processo histórico-social e político da formação de professores do curso Letras Libras da Universidade Federal de Santa Catarina na modalidade à distância, se faz necessário trazer à discussão, o papel político da língua de sinais e as mídias como meio de acesso, luta, conquista e permanência na academia pelos professores surdos e a contribuição das disciplinas de tecnologia, oferecidas no curso, como promotoras do fortalecimento do debate entorno da língua. A circulação do termo políticas linguísticas é no mínimo recente no Brasil. Por outro lado, a construção de políticas linguísticas sempre foi objeto de interesse dos governos e sempre ocorreu nas práticas sociais, isto é, nas relações entre os próprios usuários de línguas (Reagan 2010; Cooper 1989; Rajagopalan 2013). Sob à luz das teorias que abordam as políticas linguísticas, Cooper (1989), Reagan (2010), Quer & Quadros (2015), essa investigação prima pela concepção de que, preliminarmente, a fomentação em torno de uma política linguística atravessa questões governamentais e comunitárias. Neste caso, as políticas encontram seu campo de tensão. Assim, Calvet (2007) nos lembra que as políticas linguísticas existem para nos recordar, em caso de dúvida, os laços estreitos entre línguas e sociedades (Calvet, 2007). Desse modo, este trabalho discute as implicações que este curso teve não somente na formação, bem como, na conscientização e articulação política entre os surdos no espaço acadêmico por meio das redes sociais. O presente estudo ancorado na pesquisa qualitativa, verificou que a legitimidade, o valor e a autoridade da língua de sinais organizada em disciplinas propiciaram aos alunos a reflexão analítica e crítica sobre linguagem, o desenvolvimento de uma visão crítica, postura acadêmico científica e atitudes políticas frente à realidade educacional do surdo, contribuindo assim para que as afirmações políticas dos professores surdos oriundos do curso letras Libras se voltassem para a atuação à volta do direito político linguístico através de movimentos organizados nas mídias sociais. Essa organização levou à conscientização de que o direito de uso da língua determina qual idioma deve ser sustentado pelos movimentos de surdos, a atuação em prol de uma política linguística tem impacto na língua, em quem a usa e nos direitos de quem a usa.